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Quarta-feira, 14 de Maio de 2025

Colunas/Geral

O relato e a emoção de um aluno mais do que especial!

Passo aqui para registrar uma das coisas mais gratificantes que ouvi/vivi nestes meus já 20 anos de sala de aula

O relato e a emoção de um aluno mais do que especial!
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Bom dia!!!!

Passo aqui para registrar uma das coisas mais gratificantes que ouvi/vivi nestes meus já 20 anos de sala de aula. Ela ocorreu hoje, 17 de fevereiro de 2021, no encerramento da minha aula com os alunos de uma turma do 9º Ano do Oficina.

Desde o ano passado, com as aulas remotas, a escola disponibilizou um funcionário para auxiliar os professores em cada aula, naquilo que fosse necessário (chamada, links, questões técnicas variadas...). Isso nos tem ajudado muito.

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Em muitas das minhas aulas, em 2020, o funcionário Jailson me acompanhava, prestando este primoroso auxílio.

Hoje, nessa aula, comecei com a ajuda de uma outra funcionária - e sempre me refiro a elas e eles no início das aulas, saudando-os/as e agradecendo por estarem ali -, mas, ao final, percebi que "Jai" estava presente e falei com ele.

Quando encerrei a aula, ainda na sala virtual e com os alunos, ele me disse algo que me encheu de orgulho, alegria e de um profundo e sincero sentimento de satisfação. É que Jai me disse que apesar das dificuldades e da dureza do momento, aquela era uma grande oportunidade para os alunos - era parte do que eu tratava na aula quando ele entrou -, e que eles deveriam aproveitar bem tudo isto. Mas disse mais, e isso me tocou. Disse-me que gostava de acompanhar as aulas dos professores e gostava especialmente das minhas, e que se deu conta de que nas aulas que ele acompanhou no ano passado - dos mais diversos professores - aprendeu mais com o 9º ano do que tinha aprendido no ensino médio da escola pública em que estudou.

Meu coração se encheu de alegria e, meus olhos, de lágrimas. Eu acabava de receber, em meu nome e em nome dos colegas, um dos maiores, mais autênticos e mais profundos elogios e, ao mesmo tempo, incentivos que já recebi em 20 anos de sala de aula, 17 deles em escolas particulares.

A alegria, no entanto, não me cega para a percepção do quanto a educação tem sido, historicamente, um privilégio que, infelizmente, tende a perpetuar privilégios. O que deveria ser um direito universal, não tem sido - na prática, para além do que está na Lei -; o que deveria ser um verdadeiro elemento transformador para a vida das pessoas, muitas vezes não tem podido cumprir este papel, historicamente.

Estamos vivendo uma pandemia violenta e entristecedora que nos impede de fazer muito do que gostamos, inclusive, para nós professores, estar, presencialmente, numa sala de aula. No entanto, não é momento de voltarmos, pois os riscos seriam demasiados e, no mais das vezes, incontroláveis. Vidas estariam em jogo e em risco, e vidas não podem ser colocadas em jogo e em risco.

Como professor - e sei que posso falar isto não apenas por mim, mas pelos meus amigos e colegas de profissão, e mesmo por aqueles que sequer conheço, mas que sei que estão nesta mesma luta -, aprendi e venho aprendendo muito ao longo deste processo. Temos, milhares que somos, trabalhado muito - muitos, inclusive, de forma precarizada, sofrendo por diversas razões, inclusive pela desmedida e até selvagem pressão que se lhes impõem patrões, famílias e até mesmo alunos nessa Bahia e nesse Brasil afora. Temos dado duro no sentido de colaborar para a manutenção do processo de ensino-aprendizagem, aprendendo, como sempre, para melhor ensinar em meio a toda a loucura em que estamos inseridos. E temos lutado, porque as lutas são necessárias e são parte da nossa existência!

Mas hoje, nos cinco minutos em que esteve falando comigo, Jai trouxe um raio de luz, um alento, uma poderosa alegria. Saber do seu carinho, do seu respeito e da sua gratidão por estar podendo aprender coisas novas em meio a meninas e meninos de 13 ou 14 anos é engrandecedor. Mais que isto, saber que ele, funcionário da escola, na sua luta diária de vida, vê naquele espaço virtual - mas carregado de realidade! - uma janela para o conhecimento e um espaço mais do que de cumprimento das suas obrigações, mas de aprendizagem e crescimento, só reforça em mim a compreensão profunda de que educação não é mercadoria e de que não pode ser um privilégio.

Obrigado, Jai! Hoje você me fez aprender muita coisa e lhe sou grato por isto.


Allysson Mustafa
Professor
Coordenador Geral do SINPRO-BA

FONTE/CRÉDITOS: Alysson Mustafa
Comentários:
Allysson Mustafa

Publicado por:

Allysson Mustafa

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