Entrou no senso comum a ideia de que o 8 de março é o dia se homenagear mulheres, e geralmente nesse dia os namorados, maridos, empresas etc., lhe presenteiam com rosas, chocolates e assim cumpriram sua obrigação de homenagear a namorada, a esposa, a funcionária. Outro senso comum é a ideia de que essa data surgiu após um incêndio criminoso em uma fábrica têxtil em NY em 1911 que matou 146 mulheres em retaliação a uma onda de greves protagonizadas por mulheres.
Mas não foi bem assim: vários fatores foram determinantes para a oficialização do 8M como dia internacional de luta das mulheres.
As mulheres vêm desde muito tempo sendo vanguarda da luta da classe, participaram ativamente de todas as revoluções importantes, revoltas populares e lutas espontâneas - por exemplo contra a carestia - , ou organizadas, pela jornada de 8h, contra o trabalho infantil, contra o trabalho noturno para mulheres, pelo direito à educação, direito ao voto, contra os espancamentos e violências que sofriam dos maridos etc. Todos os direitos que possuímos hoje resultaram da luta feminista, apesar de termos sido invisibilizadas ao longo da história. A Marcha sobre Versalhes protagonizadas pelas mulheres ocorrida em 5 de outubro de 1789, antecipou a Revolução Francesa e isso foi omitido na maioria dos documentos historiográficos, como tantos outros eventos.
Mas, por que o 8 de março?
Em 1910 Clara Zetkin, ativista comunista e defensora dos direitos das mulheres propôs em umas Conferência Internacional que fosse criada uma data internacional para elas. Isso foi aprovado por unanimidade e já no ano seguinte alguns países passaram a comemorar em dias diferentes pois ainda não havia a definição de uma data fixa. Então, no dia 8 de março de 1917 ocorreu na Rússia uma grande marcha de mulheres chamada “Pão e Paz”, contra a carestia, contra a monarquia e pela não participação da Rússia na primeira guerra.
Em 1921, outra Conferência Internacional das Mulheres consagrou o dia 8 de março como dia INTERNACIONAL DA LUTA DAS MULHERES TRABALHADORAS em referência a essa marcha que antecipou a queda do czarismo na Rússia cujo desfecho foi a Revolução Bolchevique. A partir de 1922 alguns países a referendaram e em 1975 a Organização das Nações Unidas (ONU) a consagrou como o DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES.
A historiadora Diana Assunção lembra que “A história real do 8 de março é totalmente marcada pela história da luta socialista das mulheres (...) contra o patriarcado e o sistema capitalista”, e por isso o status quo, sem negar a importância da data, a esvazia do conteúdo classista, tornando-a uma data em que se deve (aí transcrevo novamente a historiadora) “comprar flores e presentes para as mulheres, tentando esconder o significado desse dia, que é de questionar o patriarcado” e exigir igualdade de direitos e respeito aos seus corpos.
Então, nada contra receber presentes nesse dia, mas é importante conhecer o seu significado ao longo da história, e seguir na luta para ter seus direitos respeitados nesse e nos demais dias do ano.
*Denise Carneiro é servidora da JFBA, membra do Coletivo Resistência e Luta no Judiciário
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