"Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé..."
Li, vi e ouvi de muitos companheiros de luta e de voto que ficaram desanimados com o resultado da eleição presidencial no seu primeiro turno. De alguns analistas li que Lula fora derrotado...
Calma lá! Vamos começar pelo óbvio: Lula não foi derrotado, queridinho/a!!! É preciso ser muito canalha para afirmar isto. Lula venceu, obtendo a mais expressiva votação que um candidato a presidente jamais conseguiu em primeiro turno, com pouco mais de 57 milhões de votos, alcançando mais de 6,2 milhões de votos de frente para o seu adversário mais direto. Isso não é pouco, muito menos é derrota.
Segundo: não havia nenhum elemento claro de que a parada seria resolvida no primeiro turno. Isso era o nosso desejo, a nossa esperança, mas, racionalmente, nada indicava que seria assim. Pelo contrário, sabendo de tudo o que estava sendo tramado nos últimos meses - orçamentos secretos e emendas (in)constitucionais, era evidente que haveria, em algum momento, uma resposta eleitoral ao esforço. A isto some-se o tal voto útil, que na verdade favoreceu à extrema direita, não a nós.
Dito isto, vamos ao que importa.
A eleição está aberta. Saímos em vantagem? Sim. Mas isso de nada ou pouco serve se não fizermos nosso trabalho - assim como eles têm feito e farão ainda mais nas próximas quatro semanas.
Vamos, então, a uma singela contribuição sobre o que fazer:
1. Valorize a vitória do primeiro turno, ela existiu e não foi pequena. Jamais um pleiteante à reeleição perdeu, nem em primeiro nem em segundo turno. O que já fizemos - os 57 milhões de nós - não foi pouco.
2. Se fizemos muito até aqui, fizemos pouco ou nada para o que vem a partir daqui. Portanto, coloque-se à disposição para o que vem a seguir.
3. Esqueça a ideia de falar que eleitor adversário é maluco, irresponsável, burro ou algo do tipo. Há disso tudo entre nós e eles talvez estejam bem longe disto. Eles têm suas inclinações ideológicas, suas fragilidades, seu medos, seus rancores, seus sonhos. São pessoas normais, como nós, com erros e acertos. Sim, há os sem noção, e eles existem de parte à parte. Portanto, não é esse o foco e nem deve ser esse o debate e o embate.
4. Converse. Chegue perto. Identifique possíveis aliados ou pessoas disponíveis a repensar o que fizeram até aqui.
5. Se houver conversa, preze pela civilidade - esses somos nós! Seja franco, jamais agressivo. E se vier agressividade, seja sereno. É difícil, mas é uma exercício que a política exige. Não aceite ir pro embate no terreno que os favorece. Nós temos algo a dizer que é real - não são fake news - e podemos fazê-lo de forma amorosa mesmo quando se ensaia ódio do outro lado.
6. Se a conversa descamba para o puro suco de rancor e destilação de ódio gratuito e infundado, caia fora. Pode tratar-se de uma pessoa ainda incapaz de dialogar, envenenada. Nós não somos cura de nada. Cada um que busque suas ajudas necessárias (ou não).
7. Busque os que votaram na Simone, na Soraya, no Ciro. Eles tiveram suas razões e nós somos defensores do republicanismo e da democracia. Ou seja, seus votos e suas escolhas são justas a partir dos seus olhares sobre o Brasil e a partir das suas expectativas. Mas estas pessoas podem ter algo a nos dizer que nos interessa saber. E nós podemos estabelecer o diálogo franco e fraterno. E o diálogo pode gerar empatia e convergências.
8. Não insistamos nas pautas de costumes ou identitárias. Elas são caras a nós, necessárias para uma melhor vida em sociedade, fundamentais para a ampliação dos direitos e da própria ideia de cidadania. Mas precisamos ter estratégia e foco, precisamos ter a malícia necessária para entender o cenário, o adversário e como movimentar as peças no tabuleiro.
9. Não discutamos religião. Aliás, foi com Lula que se sancionou a Lei que permite justamente a facilitação para criação de igrejas/organizações religiosas (Lei 10.825, de 22 de dezembro de 2003), assim como criou o Dia Nacional da Marcha para Jesus (Lei 12.025, de 3 de setembro de 2009).
10. Vamos focar no bem-estar, emprego, salário e questionar se a vida das pessoas é melhor hoje do que era no tempo do Lula. Vamos perguntar se elas conseguem comprar o que compravam, comer o que comiam, viajar como viajavam. Se elas têm hoje a perspectiva de vida que tinham. Esse é o centro no debate: economia, salário, emprego, mesa farta, perspectiva de vida, percepção de uma vida mais feliz. O que está em jogo, em grande medida, é colocar comida na mesa e permitir que as pessoas ascendam socialmente, melhores suas vidas.
11. Se corrupção for o tema, diga que nunca se investigou tanto como no tempo de Lula, que criou os melhores instrumentos para Polícia Federal e Ministério Público para isto. Corrupção é uma chaga, mas está de todo lado. É algo infeliz e que precisa ser tratado sempre, mas não é o foco e nem pode ser, até porque o atual governo é o mais corrupto da história.
12. Faça de cada local de trabalho, cada mesa de bar, cada restaurante, cada fila um comitê de campanha. Junte gente, troque ideias, mostre-se interessado em ouvir, mas passe o recado. Temos 4 semanas e a coisa não será nada fácil.
13. Demonstre empatia, jamais soberba. Nós temos muito o que ouvir e muito o que dizer. Nosso lugar é o do amor às pessoas, do desejo profundo de que todos possam prosperar e viver de forma melhor. Portanto, nossos braços devem estar abertos. Nada de punhos cerrados. Nós somos de luta e seremos de luta sempre, mas as batalhas se vencem com inteligência antes de qualquer força.
À vitória no dia 30 de outubro e a um Brasil melhor, mais justo e mais fraterno.
Abraços,
Allysson Mustafa
Professor e Coordenador Geral do SINPRO-BA
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