Para se vencer um debate e alcançar seu intento prioritário muitos utilizam a narrativa da desqualificação, comparações sob premissas falaciosas, omissões intencionais e “palavras gatilho” entre outras táticas. É isso que sistematicamente vem acontecendo há muito tempo contra o trabalhador público para desvalorizá-lo e assim facilitar a extinção so oferecimento de serviço gratuito, com impessoalidade e transparência, o que sempre desagradou ao mercado e aos políticos corruptos.
Em uma Ação movida pelo SINDPOL/BA a 4ª Vara da Justiça Federal da Bahia recentemente condenou o Ministro Paulo Guedes por algumas das suas falas mais duras e caluniosas sobre os servidores públicos: “parasitas, assaltantes e preguiçosos”. A Juíza titular da Unidade destacou que Guedes violou a honra e a imagem dos servidores, além de incentivar o ódio, excedendo “barbaramente” o direito de liberdade de expressão. Segundo ela o réu insultou os servidores públicos e incentivou o ódio e a discriminação e ainda violou a honra e imagem dos servidores, e que “não se espera que um Ministro de Estado ofenda os próprios agentes estatais”.
A multa foi reduzida para 50 mil reais porque se refere a uma demanda de uma única categoria. O Coletivo Resistência e Luta no Judiciário, Movimento do qual faço parte, entende que as demais Entidades deveriam seguir o exemplo do Sindpol e buscar punição para os autores de tais falas - que foram muitas, vindas de várias figuras da base do governo ou até de membros dele - e, embora o valor seja simbólico, a defesa da honra e imagem do servidor precisa acontecer em todos os cenários possíveis.
Arthur Schoppenhauer (1788 – 1860), elaborou 39 “estratagemas” para se vencer um debate sem precisar estar com a razão. Alguns deles tem sido utilizado contra o servidor e o serviço público desde a promulgação da CF e da Lei 8112/90 pelos governos, uns com mais veemência, outros com menos. O uso dessas artimanhas e de outras mais recentes é a tática do governo Bolsonaro para colocar uma “pá de cal” na sistematização das Carta Magna e do RJU e assim desmontar totalmente a máquina estatal. Em grosso modo: acabar com tudo.
Vejam alguns estratagemas apontados pelo filósofo alemão: “Uso intencional de premissas falsas” e sobre elas elaborar teses e documentos como se ali contivessem argumentos e dados corretos; “Falsa proclamação de vitória”: finalizar o discurso alegando que tais problemas serão finalmente resolvidos; “Desvio do cerne da discussão ou abandono do debate”; “incompetência Irônica”: uso de ironias para esconder seu desconhecimento do assunto. Outras não descritas pelo filósofo e utilizadas para o mesmo fim: investimento maciço na indústria de fake News; Monopólio da comunicação que divulga apenas a versão de um dos lados do debate; Desqualificação dos agentes discordantes; Comparações de dados os distorcendo; Omissões intencionais sobre aspectos que depõem contra eles; Uso de “palavras gatilho” como “marajás”, “privilegiados”, “mamatas” etc. Quem aqui não reconhece o uso dessas táticas utilizadas historicamente contra os servidores e o serviço público?
Outro embuste é politizar a discussão e acusar o outro lado de... politizar a discussão... Assim, com tudo isso junto, conseguem o inusitado: quem não pode pagar por saúde e educação passa a defender o fim da educação e saúde públicas, e servidores públicos a defender a Reforma Administrativa, para citar apenas dois exemplos. E isso não muda com a pandemia quando o SUS está salvando vidas gratuitamente apesar da política de morte aplicada pelo governo federal, e o Judiciário - com todos os problemas de origem e de estrutura – tem levado pessoas doentes a leitos de hospitais e forçado esse governo a fornecer auxílio emergencial e outros benefícios aos mais carentes. Vivemos no Brasil a era de pandemia de absurdos.
Tudo torna ainda mais importante a tarefa dos imunes a esses vírus: se contrapor diuturnamente à narrativa de desqualificação, e partir para o ataque, pois, segundo Sun Tzu (544-496 a.C) a melhor defesa é o ataque.
Um lembrete: nessa batalha todos e todas estão no campo e não há muro que proteja os omissos (mas isso é assunto para outro artigo...).
*Denise Carneiro, dirigente da CSP-conlutas/BA e trabalhadora da Justiça Federal da Bahia.
Comentários: