Após as últimas eleições que fizeram chegar ao poder a atual classe de políticos - presidente, governadores, prefeitos, senadores, deputados federais e estaduais, chegando aos vereadores - estamos vivenciando um cenário de escassez de recursos que vem sendo propagado por essa classe política. Essa suposta escassez, aliada com um discurso mentiroso da “dívida pública”, vem servindo como justificativa dos governantes em todas as esferas, para aprovar os mais diversos projetos que promovem ajustes fiscais, reduzindo a capacidade da promoção de políticas públicas. Essa redução da força do Estado se manifesta por diversos meios, decorrentes das manobras urdidas pela maioria da classe política, alçada ao poder por este frágil, porém democrático sistema eleitoral.
Nos últimos anos, principalmente a partir do ano de 2016, toda a classe trabalhadora, assim como a sociedade de modo geral, vem amargando um cenário de drástica redução de direitos. No tocante à classe trabalhadora da iniciativa pública e privada, tal cenário gera consequência direta no bolso e nas condições de trabalho, por meio da redução e congelamento salariais, aumento da taxação sobre os rendimentos, aumento da carga horária de trabalho, redução da proteção ao trabalhador nas leis trabalhistas, aumento da informalização, trabalho intermitente, além de outras formas de ataques que aviltam a dignidade da classe assalariada.
Mas, como é que chegamos a um ponto de tantas adversidades e retrocessos na condição do bem-estar da nossa classe?
Um dos motivos, senão o principal, dentre os mais diversos fatores, responde pela despolitização das classes populares que compõem a grande massa de trabalhadoras e trabalhadores em todos os setores. Do ano de 2002 ao ano de 2016, com as eleições sofrendo impacto direto da atuação sindical, começamos a perder a nossa capacidade de atuação. A classe política de então, eleita para colocar em prática as pautas trabalhistas, se degenerou, assim como também se degenerou a atuação sindical, aceitando de forma submissa uma pauta que não atende aos interesses dos trabalhadores. Nesse período, os mandatários eleitos pelos trabalhadores optaram por programas de governabilidades, conciliação de classe, concessões e barganhas com a elite capitalista.
A partir do ano de 2016, com a escalada ao poder dos representantes ultraliberais do campo da direita, que defende exclusivamente os interesses dos capitalistas, a atuação das entidades representativas da classe trabalhadora foi colocada em cheque, se tornando alvos fáceis de serem abatidas, em razão do seu estado de desmobilização, fragilidade representativa e falta de credibilidade.
Desta forma, se constitui em grande desafio, recuperar a credibilidade da atuação sindical perdida ao longo do tempo, levar a efeito um trabalho sério de politização da classe, através de processos efetivos de formação política, com clareza e fidelidade aos fatores históricos que impulsionaram o surgimento das entidades sindicais, sua ascensão no cenário político e os motivos que desaguaram em sua decadência. Em resumo, podemos dizer que o trabalho da atuação sindical é de recomeço, necessitando para tanto uma completa ligação entre líderes e liderados, numa verdadeira relação simbiótica, eis que não existe liderança sindical sem sua base de apoio.
Nessa perspectiva, é grande a satisfação de poder participar da formação política do recém-criado SINDSAUBA (Sindicato Municipal dos Servidores Públicos de Saubara), que ocorreu no último dia 10 de julho. É motivo de grande satisfação, principalmente num cenário de adversidades para a atuação sindical, ver surgir um sindicato para defender a classe trabalhadora. Isso nos mostra que ainda temos fôlego e muita capacidade de atuação, bastando para tanto um trabalho sério, verdadeiramente compromissado com sua base, com abstração dos interesses que não dizem respeito aos anseios de ordem geral. Este tipo de filosofia urge, devendo ser colocado em prática desde ontem, visando a retomada do espaço perdido no campo político, recuperação e expansão de direitos, emprego e renda, num legítimo processo de emancipação da classe trabalhadora.
Antonio Jair Batista Santos Filho
Participante do Fórum Baiano em Defesa do Serviço Público
Participante do movimento em defesa da Auditoria Cidadã da Dívida Pública – Núcleo Bahia
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