O secretário de Cultura da Bahia, Bruno Monteiro, foi o palestrante do último painel do 3º Congresso dos Fazendários, evento encerrado na sexta (20), no Hotel Deville. Ao lado do debatedor, ex-deputado Javier Alfaya, ele falou o tema de maneira geral e discorreu sobre as políticas que vêm sendo empreendidas na Bahia no atual governo.
Bruno acha que estamos evoluindo na noção do que é a cultura no espaço público. Ele lembrou que nos últimos anos os setores autoritários atacaram o setor cultural pelo que se pode construir em termos de consciência crítica. Segundo ele, a tentativa de apagamento dessas referências visou destruir a usina geradora de pensamento crítico do país.
Para ele, atualmente, está se tentando repensar o papel do estado no diálogo com as diversas expressões artísticas e como podemos melhorar essa relação e desenvolver uma política cultural. “Temos uma grande oportunidade de ampliar conceitos, reflexões e a nossa ação, pensando o setor a partir da lógica do fazer cultural de cada ser humano, evitando a ideologização ou o fazer a partir de conhecimentos eruditos, com viés elitista”, disse.
Ele citou o exemplo da televisão, que criou padrões que apresentavam à sociedade apenas poucos artistas e/ou manifestações. “Com a democratização da comunicação, passamos a ter acesso a outras expressões e diversidades, com o surgimento de novos talentos”, opinou. Bruno falou que a escolha do estado de ter o ser humano como o centro do fazer cultural nos traz outra dimensão do processo, que é o aspecto social e econômico.
Monteiro informou que o mercado cultural gera 30 milhões de empregos no mundo e o PIB da economia criativa passará de 7% para 10% nos próximos anos. No Brasil, segundo levantamento da Fundação Itaú Cultural, o setor movimentou R$ 217 bilhões em 2020, 3,1% do total do PIB, superando a indústria automobilística. Segundo ele, esses números colocam muitas possibilidades, com investimento em empregos criativos que possam atrair a juventude.
Segundo Bruno, o que a Secretaria de Cultura da Bahia tem feito é investir para criar oportunidades sustentáveis, que possam expandir o acesso à cultura e permitir o desenvolvimento das pessoas onde o investimento em equipamentos e em polos culturais é feito. Para ele há desafios enormes a serem vencidos, mas há avanços concretos e os dados coletados já mostram isso, a partir de movimentos das leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo.
No final, Monteiro informou que o governo baiano enviará à Assembleia Legislativa projeto de lei para criar a Bahia Filmes, empresa pública baiana de incentivo à produção audiovisual. Finalizou sua fala dizendo que precisamos ampliar a formação em artes para a juventude, em parceria com a escola, aumentando a valorização do que os jovens produzem e quebrando o paradigma que os afasta da exploração de suas potencialidades. E completou com a necessidade da formação da mão-de-obra para a economia criativa.
Debate
Javier Alfaya, autor da primeira Lei da Cultura de Salvador, quando foi vereador na cidade (1989-2002), falou que o Brasil tem experiências exitosas importantes no incentivo à cultura, como as leis citadas por Bruno Monteiro (Aldir Blanc e Paulo Gustavo) ou a Ancine, a Agência Nacional de Cinema, que ajudou a colocar o país hoje como vanguarda na produção cinematográfica na América Latina.
Mas fez o contraponto com a necessidade de avançarmos na concretização dos investimentos na cultura de maneira perene, que não seja interrompido por governos autoritários, em várias áreas, não somente com a destinação dos recursos, mas com o estabelecimento de políticas de desenvolvimento. Ele citou o caso da Coreia do Sul, que criou três agências para o incentivo à produção musical, com resultados sendo observados hoje no consumo da nova música coreana em várias partes do mundo.
Da mesma maneira, Javier defendeu o estabelecimento de parâmetros de regionalização da produção e no incentivo. Por exemplo, disse, é preciso incentivar o consumo da produção nacional de cinema. Ele lembrou que quando ocorrem lançamentos de superproduções de Hollywood, as salas de cinema do Brasil, majoritariamente, ficam ocupadas por estes longas norte-americanos, que ocupam mais de 70% dos espaços.
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