Evento realizado na Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB) indicou a urgência de o estado desenvolver projetos para se tornar a sede do refino verde no mundo
Com a participação de empresários nacionais e internacionais, foi realizado nesta segunda-feira, no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), o workshop “Bahia, Estado Sede do Refino Verde no Mundo”, promovido pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), em parceria com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (SDE), com o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (INEEP) e com a própria FIEB.
“O estado da Bahia tem tudo para assumir um protagonismo na produção de hidrogênio verde e de seus derivados. Hoje estamos dando o pontapé inicial para que a Bahia se torne o estado sede do refino verde no mundo”, festejou Deyvid Bacelar, coordenador geral da FUP, entidade que vem capitaneando a luta pela transição energética justa no País.
Mediadora de uma das mesas de discussões, a CEO da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), Fernanda Delgado, destacou que é preciso trazer com urgência o Brasil para a nova ordem econômica mundial verde. “Não queremos competir com os combustíveis fósseis. Queremos complementar a matriz energética de nosso país”, frisou.
Para o presidente da FIEB, Carlos Henrique Passos, esse tema é importante não só para a Bahia, mas para todo o mundo. “Estivemos recentemente numa feira sobre hidrogênio verde em Roterdã (Holanda) e percebemos que o hidrogênio já é uma fonte importante de energia para a Europa. Há uma clareza acerca da necessidade desse insumo para a produção energética mundial”.
Ao longo das discussões, ficou patente que o Brasil não pode mais perder tempo. “Não podemos mais só estudar, temos de agir. Os países do Norte da África já estão prestes a assumir um papel que nos cabe”, acrescentou ainda o presidente da FIEB.
Representando o governo do estado, o secretário de Desenvolvimento Econômico Ângelo Almeida lembrou as adversidades que foram vencidas para que a Bahia se tornasse uma das referência mundiais na produção de energia solar e eólica.
“Vai ser preciso que a Petrobras assuma o papel de âncora para atrair as empresas nacionais e internacionais para participar desse projeto fundamental. É mandatório que a Bahia assuma o seu papel. A Bahia será a Arábia Saudita dessa nova matriz energética chamada hidrogênio verde”, pontuou o secretário, voltando a frisar que os projetos de energia solar e eólica desenvolvidos na Bahia situam hoje o estado como um dos mais promissores para a consolidação de uma transição energética.
Diretor executivo da empresa Quinto Energy, Rafael Cavalcanti avaliou que o hidrogênio verde tem sido o assunto da moda, mas que é preciso construir as bases sólidas que vão viabilizar comercialmente esse produto.
Cavalcanti apontou que a Bahia tem os melhores ventos, as melhores radiações, uma malha de infraestrutura de transmissão já pronta, um polo petroquímico em funcionamento oferecendo os serviços necessários para receber qualquer indústria, além dos dutos interligando o porto ao Polo.
“É a primeira vez no mundo que vamos falar em refinaria verde. Sempre falávamos em energias renováveis.
Agora teremos a capacidade de produzir a mesma cadeia de produtos do petróleo, só que a partir do hidrogênio verde”, informou Cavalcanti, acrescentando que, na Bahia, “temos uma grande quantidade de energia, uma Itaipu de energia eólica e solar”.
O diretor da Quinto Energy disse também que a Bahia entra nesse debate com uma grande vantagem em relação aos outros estados, visto que nenhum outro possui convergência de transmissão. “Era o nosso maior gargalo, mas agora a Bahia vai melhorar ainda mais a transmissão a partir da reindustrialização do polo petroquímico”.
Lembrando que a transição energética é um fenômeno complexo, o ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, apresentou o painel “Programa Nacional de Hidrogênio – PNH2 e o Nordeste”, destacando que não há como se pensar uma política de hidrogênio sem a participação da Petrobras. “Estamos discutindo a questão do hidrogênio verde porque estamos num contexto de discussão da transição energética. E a transição energética deve ocorrer basicamente em função das emissões de carbono que estamos fazendo e que vão acabar provocando o aquecimento global. Não podemos admitir que ele cresça mais do que está crescendo porque senão nós iremos enfrentar novos fenômenos catastróficos no mundo”
Gabrielli lembrou que há hoje no mundo pouca diferença na legislação entre o hidrogenio verde e hidrogênio de baixo carbono. Ressaltou que a transição energética vai exigir que troquemos os combustíveis fosseis pelos renováveis, mas se não houver armazenamento de energia eólica e solar, não resolveremos os problemas de transmissão.
“Para maximizar a geração, teremos de incentivar a geração e o consumo num mesmo subsistema de distribuição”, frisou.
Avaliando o encontro, o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, disse que foi uma excelente oportunidade para se discutir o desenvolvimento econômico que queremos, e que precisa ser social e sustentável. “É fundamental que todos nós estejamos participando hoje dessas discussões.
Há, também, um investimento do Fundo Mubadala em um outra rota tecnológica com previsão de um investimento previsto de US$13 bilhões na Bahia nos próximos 10 anos. E tudo indica que esse investimento será feito em parceria com a Petrobras. Estamos falando em quase 230 mil hectares que terão 15 a 20 por cento destinados para a agricultura familiar, que deverá produzir oleaginosas para a futura biorrefinaria a partir da macaúba e do dendê, principalmente”, reforçou Bacelar.
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