Na tarde do dia, 07/12, a Apub realizou, através da do GT de Gênero, Raça e Sexualidade, o debate “Ações afirmativas no Ensino Superior: como a política de cotas pode transformar a sociedade”.
Com a mediação da professora doutora Silvia Lúcia Ferreira, da Escola de Enfermagem/UFBA e Coordenadora do NEIM/UFBA, a mesa contou com a participaçãoda professora doutora Maria Cláudia Cardoso Ferreira, historiadora e docente da Unilab/Campus Malês; Cássia Virgínia Bastos Maciel, Pró-Reitora de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil da UFBA, psicóloga e doutoranda; e Arlindo Pereira Neto, Coordenador Geral do DCE/UFBA e Diretor de Combate ao Racismo da UNE.
Abrindo o debate, a professora Maria Cláudia falou sobre as ações afirmativas para servidores públicos, especialmente docentes do ensino superior, com ênfase nas reflexões sobre os formatos dos concursos públicos e a efetivação da política. Ela trouxe dados de estudos que apontam a desigualdade étnico-racial nas Universidades e Institutos Federais de Ensino Superior e também sobre a aplicação das políticas de ações afirmativas nessas instituições. Também apontou problemas para a efetivação da reserva de vagas para docentes negras e negros, e exemplos de instituições que avançaram nesse sentido, como a PUC-SP que estabeleceu a contratação exclusiva de professores/as negros/as em durante 6 anos, buscando alcançar cerca de 37% do corpo docente, índice da população negra autodeclarada em São Paulo. “Uma coisa é dizer que está aplicando a política de ações afirmativas, outra é fazer isso acontecer efetivamente”, pontuou a docente. Para ela, a universidade deveria contemplar a universalidade étnica e cultural, mas isso não acontece com a hegemonização de um grupo sócio-racial. “A produção de conhecimentos e de subjetividades sofre uma barreira por conta dessa falta de representação da diversidade. Será que não temos que pensar também as formas de concurso para as universidades públicas?”, refletiu a docente.
A pró-reitora Cássia Maciel trouxe parte de sua trajetória como gestora para refletir sobre os desafios de pessoas negras, especialmente mulheres, para assumir e se manter em cargos de gestão, enfrentando os estigmas e as desigualdades impostas pelas questões de gênero, racial e social no país. Para ela, a questão do debate é “Por que precisamos transformar a sociedade? Porque a sociedade brasileira é racista. A política de ações afirmativas é uma das principais formas de reparação nesse país”, afirma. Ela citou o processo de desumanização contra as pessoas negras, referenciando Frantz Fanon, para pensar os impactos psíquicos do racismo. Também apontou que há uma série de medidas que precisam ser tomadas para garantir que essas transformações aconteçam na Universidade. “Para além da inserção de pessoas negras, é preciso pensar estratégias de convivência, permanência, mudanças curriculares e bibliográficas, entre outras”, explica.
Já Arlindo Neto trouxe as perspectivas do movimento estudantil sobre as ações afirmativas, apontando que a UNE vem debatendo o avanço da política de cotas e de permanência estudantil, refletindo sobre o aumento da evasão. Para ele, “há uma disputa ainda na sociedade sobre essas políticas de reparação. Além da disputa institucional, precisamos disputar ideologicamente a consciência da sociedade sobre a questão. Ele informou ainda que a UNE vem se debruçando em documento que contribua com essas políticas, com a efetivação delas e pensando a Universidade de forma mais ampliada.
A partir das reflexões, a professora Sílvia afirmou a necessidade de pensar como o sindicato pode contribuir com o aprofundamento das discussões e realizar ações que incidam sobre as políticas afirmativas, colocando o antirracismo na pauta sindical de forma mais efetiva.
O debate está disponível na íntegra no canal da Apub (assista aqui).
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